— Will, se existe seres como nós, por
que não? — indagou Letícia sensata.
— Papai Noel também? — perguntou ele de
maneira debochada.
— Existe também. – respondeu Dan sério
– Ano passado inventei de voar um pouco na véspera de Natal e as renas quase me
atropelaram, acredita? — ele apoiava seu queixo nas mãos e sorria enquanto
falava. Aquele sorriso de deboche fazia Will se lembrar do antigo Líder de
Burns... Uma gargalhada que pingava arrogância, a risada de alguém que tinha
poder sobre o mundo.
Ele não achou a menor graça, mas as
meninas deram boas gargalhadas da piada ruim.
— Que para você que saiu vivo do
encontro com as renas. – resmungou – Mas o que isso quer dizer, vocês também
estão mortos?
— Claro que não! — respondeu Danielle
rindo. — Estamos bem vivos. É que esse nome tem a ver com os nossos poderes.
Podemos voar, ficar intangíveis, como viram com o carro, e ficar invisíveis.
— Jura que podem fazer isso? – exclamou
Letícia com seus olhos escuros brilhando – Que sonho poder fazer tudo isso!
— Pode mostrar agora algo? — Will
estava com um pé a trás, pois, os poderes eram realmente interessantes. Não
podia fingir que era, também, um pouco de inveja.
Para provar o que dizia, Danny puxou a
manga direta de seu suéter rosa até os dedos sumirem e o descansou o braço na
mesa. Com a outra mão, pegou a de Will e colocou numa altura de uns vinte
centímetros acima da que repousava sobre a mesa e segurou a mão livre dele com
a sua que não estava coberta com o suéter.
— O que vai fazer? — perguntou Will sem
entender o que era todo aquele jogo de mãos.
— Sente minha mão? — sorriu ela.
A mão que estava coberta pelo suéter
atravessou-o, encontrando a mão de Will a vinte centímetros de distância, e a
segurou firme.
— É você que está me segurando? – ele
alarmou-se – A esquerda está aqui, mas a direita, você... Está segurando a
minha mão? — se não estivesse com as mãos ocupadas estaria se benzendo.
— Sim...
— Me deixa sentir? — Letícia pediu
pousando a sua mão na de Will, que se arrepiou mais ainda. Danielle a tocou
também, e a garota não se conteve e soltou um grito adolescente — Nossa,
Danielle, que máximo!
— Obrigada— ela voltou com o braço no
suéter, tímida, e terminou de comer — Acho que os garotos vão conversar muito
ainda, quer ir comprar os enfeites?
— Claro – a outra prontamente concordou
– Sabe que não tem muita gente da minha idade onde moro. E como sei que você
pode se defender, não irei... Você sabe...
— Sim, imagino — a fantasma sorriu e
terminou o refrigerante. Virou-se para o irmão. — Você pode comprar uma árvore
parecida com a deles? Nossa mãe sempre quis uma dessa.
O irmão revirou os olhos — Claro.
Só vou terminar as fritas. Por enquanto, fico aqui respondendo ao Will. E
vice-versa, claro.
— Sim – o vampiro meio que mostrou as
presas – E te mostro onde compramos a nossa.
— Ok. – ela olhou para o relógio – São
07h30min ainda. Nos encontramos às 8h30min?
— Pode ser. Qualquer coisa, ligue —
instruiu Daniel.
Mas ela não ligaria mais.
~♦~
— Letícia, como você... – Danny parecia constrangida – Bem, sabe...
— Não gosto muito de falar sobre isso.
– respondeu a outra menina docemente, não para cortar – Mas posso garantir, foi
melhor eu ter virado o que sou agora.
— Por quê?
— Eu estava morrendo, – contou Letícia,
as duas parando de andar – Estava com um câncer terminal. Ia morrer logo e
ganhei essa nova vida quando não tinha mais esperanças. Nem imagina como é
ótimo poder fazer tudo o que posso agora, a força que tenho e não estar doente
para tudo. Só estou privada da luz do Sol, mas para quem não tinha nada, a
noite é maravilhosa.
Danielle sorriu. E não se segurou,
abraçou-a, num gesto espontâneo e afetuoso.
— Por que está fazendo isso? —
perguntou Letícia, mas aceitando o abraço. Não lembrava a última vez que tinha
recebido um.
— Você deve ter sofrido muito e não
deve ter nenhuma amiga agora...
A vampira riu, mas estava prendendo a
respiração para não sentir o perfume de Danielle. Não queria atacá-la. Não
agora. Não quando tinha conhecido uma amiga.
— Claro que não. – disse quando se
controlou – Vampiros não têm amigos.
Têm, no máximo, aliados. E muitos inimigos.
Danielle soltou do abraço e segurou a
mão de Letícia. Sorria de orelha a orelha.
— Vamos fazer compras! – gritou,
decidida – Uma boa coisa para amigas, que tal?
Letícia acabou entrando no clima, não
tinha como resistir. Queria ser apenas uma adolescente de novo.
— Claro! Faz tempo que não faço compras
com amigas, vivia em uma cama.
— Só coisa boa agora! – riu ainda mais
– Vamos... — e a arrastou para vitrines. Até parar na frente de uma. — Olha só
aquela jaqueta de couro!
As duas acabaram se encantando pela
jaqueta e esqueceram-se do tempo a olhando através do vidro, até que Letícia
sugeriu que entrassem de uma vez na loja e a experimentassem.
— Vamos sim, mas antes... – Danny
voltou a parecer constrangida – Ahn, preciso ir ao banheiro. Vem comigo?
Enquanto iam para os banheiros, não
podiam deixar de conversar.
— Vocês moram onde? — indagou Danielle
imaginando o lar de um vampiro.
— Bem, só o que posso te garantir é que
não tem caixões — sorriu misteriosa.
— Que decepção — Danielle riu enquanto
entravam no banheiro. — Milagre, banheiro feminino vazio!
— Pois é, muito estranho — disse
Letícia desconfiada com esse vazio. Sabia que o shopping estava cheio, e não
fazia sentido encontrar o banheiro vazio, ainda mais o feminino. Sem querer
soar como o Will, aquilo Não parecia um bom sinal.
— Tem outro banheiro aqui perto, deve
ser por isso — comentou Danielle entrando no privativo.
Letícia ignorou o pressentimento que
pinicava sua nuca e seu inexistente reflexo nos vários espelhos. Não ficava
deprimida por não ter mais reflexo, isso a impedia de ter que revisar o cabelo
curto toda hora.
— Danielle, e você? – perguntou para a
porta por onde a outra havia entrado – Como tem os seus poderes?
— Família — respondeu — Vai passando de
pai pra filho, mas nem todos têm as mesmas habilidades.
— Mas quem foi o primeiro? — a vampira
olhou em volta, apenas para revisar e deu de ombros — Pode falar, não tem
ninguém.
— Foi um fantas... — Danny parou de
falar, pois a luz foi desligada e a escuridão tomou todo o lugar — Letícia foi
você? Letícia?
Não houve resposta, sequer ruídos. O
silêncio consegue ser assustador toda vez.
Danny resolveu sair de sua cabine mesmo
no escuro, tateando até encontrar a pequena maçaneta. Havia alguma luz entrando
pela janela, a noite lá fora e toda sua neve, mas claridade suficiente para ver
o corpo de Letícia estirado ao chão. O vermelho do sangue parece ser a única cor
que é visível até mesmo na escuridão.
Um arrepio tão sinistro como o que
sentiu mais cedo a invadiu, não conseguindo deixá-la pensar direito,
confundindo sua mente e embaralhando seus sentidos.
Quando conseguiu concentrar-se o
suficiente para ficar intangível e sair correndo dali, um choque intenso
invadiu seu corpo. Só conseguiu pensar em como Daniel sofria na prisão quando
sentia os choques. E inconsciente caiu sobre o corpo desacordado Letícia.
~♦~
— Qual é o lance de seus olhos? —
insistiu Will, acomodando a árvore nas costas.
— Resumindo: tem dois egos nesse corpo.
O de olhos azuis e dos olhos vermelhos — respondeu Daniel seguindo o vampiro
até a loja de árvores de Natal.
— Simples assim? – ele levantou uma
sobrancelha – Por que há dois?
— Hum, - Dan parecia inquieto e
desconfortável com o assunto – É meio complicado sabe... É essa a loja?
— Sim. – respondeu e apontou para o
fundo da loja – E lá tem uma igual a essa.
— Perfeita. Obrigado — disse Daniel
indo em direção a sua árvore e fugindo do assunto descaradamente.
Depois de comprar, colocou a árvore
sobre os ombros, também sem nenhuma dificuldade, seguiram para o local
combinado de encontrarem as meninas.
— Fortinho você, sabe, para um fantasma
– debochou Will.
— Pois é, sou sim... Sabe, sangue
bom...
— Mas me conte uma coisa, você sabe
como somos criados, não sabe? —
— Sim, – assentiu – mordido?
— Correto. Mas e vocês? — Will estava curioso, não conseguia
esconder. Precisava saber tudo sobre tudo.
— Família. Meu pai, avó e irmã também
são.
— Mas como tudo isso surgiu?
— Um fant... — Daniel parou de falar,
pois sentiu um arrepio. E sabia que sua irmã não estava bem. Parecia que ela
precisava de sua ajuda. — Will? — ele olhou para o vampiro, que também parecia
ter reparado em algo.
— Cheiro de sangue, algo ruim aconteceu
— e saiu correndo o mais rápido que um humano de vinte anos podia correr. Não
podia chamar atenção, mas correu por entre toda aquela gente.
Daniel foi atrás, na velocidade que
faria um atleta estudantil de quinze anos ter inveja.
Ser um vampiro e ser um fantasma têm
suas vantagens... Mas já era tarde demais.
~♦~
— Qual é o lance de seus olhos? —
insistiu Will, acomodando a árvore nas costas.
— Resumindo: tem dois egos nesse corpo.
O de olhos azuis e dos olhos vermelhos — respondeu Daniel seguindo o vampiro
até a loja de árvores de Natal.
— Simples assim? – ele levantou uma
sobrancelha – Por que há dois?
— Hum, - Dan parecia inquieto e desconfortável
com o assunto – É meio complicado sabe... É essa a loja?
— Sim. – respondeu e apontou para o
fundo da loja – E lá tem uma igual a essa.
— Perfeita. Obrigado — disse Daniel
indo em direção a sua árvore e fugindo do assunto descaradamente.
Depois de comprar, colocou a árvore
sobre os ombros, também sem nenhuma dificuldade, seguiram para o local
combinado de encontrarem as meninas.
— Fortinho você, sabe, para um fantasma
– debochou Will.
— Pois é, sou sim... Sabe, sangue
bom...
— Mas me conte uma coisa, você sabe
como somos criados, não sabe? —
— Sim, – assentiu – mordido?
— Correto. Mas e vocês? — Will estava curioso, não conseguia
esconder. Precisava saber tudo sobre tudo.
— Família. Meu pai, avó e irmã também
são.
— Mas como tudo isso surgiu?
— Um fant... — Daniel parou de falar,
pois sentiu um arrepio. E sabia que sua irmã não estava bem. Parecia que ela
precisava de sua ajuda. — Will? — ele olhou para o vampiro, que também parecia
ter reparado em algo.
— Cheiro de sangue, algo ruim aconteceu
— e saiu correndo o mais rápido que um humano de vinte anos podia correr. Não
podia chamar atenção, mas correu por entre toda aquela gente.
Daniel foi atrás, na velocidade que
faria um atleta estudantil de quinze anos ter inveja.
Ser um vampiro e ser um fantasma têm
suas vantagens... Mas já era tarde demais.
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